DEMÉTRIO E A DIANA DOS EFÉSIOS
Julgando concluir o seu trabalho em Éfeso, Paulo estava projetando ir a Jerusalém, passando por Macedônia e Achaia. Em sua nova viagem ele tencionava chegar até Roma, e mandaria os seus auxiliares Timóteo e Erasto à Macedônia.
Nesse ínterim, houve em Éfeso um grande alvoroço “acerca do caminho”, quer dizer — a respeito da religião, visto que um “homem chamado Demétrio, ourives, que, de prata fazia santuários de Diana, (1) dava muito lucro aos artífices; e ele reunindo-os com os oficiais de obras semelhantes, disse: Senhores, sabeis que deste ofício vem a nossa riqueza, e estais vendo e ouvindo que não só em Éfeso, mas em quase toda a Ásia, este Pau- io tem persuadido e desencaminhado muita gente, dizendo não serem deuses os que são feitos por mãos de homens. E não somente há perigo de que esta nossa profissão caia em descrédito, como também que o templo da grande deusa Diana seja desconsiderado, e que venha mesmo a ser privada da sua grandeza aquela a quem toda a Ásia e o mundo adora. Ouvindo isto se encheram de ira, e clamavam: Grande é a Diana dos Efésios” (23-29).
Esta narrativa, por si só, encerra o quanto pode a “religião do interesse” que ainda hoje movimenta toda essa mola humana.
É um caso que precisava ficar gravado na história e que estereotipa perfeitamente o “espírito religioso”, não só de então, mas com muito mais razão, de hoje, em que os mercenários se encontram aos milhões, sufocando todos os influxos da fé, todas as cintilações de esperança, todos os arroubos de caridade.
O que era a “deusa Diana, a Diana dos Efésios?" Não equivaleria ela às estátuas e imagens que se ostentam hoje nos altares? O que era o templo dos Efésios? Não seria semelhante aos templos em que os sacerdotes atuais pontificam?
O caso de ontem com o Cristianismo, assim como o de hoje com o Espiritismo, mutatis mutandis, é sempre o mesmo; “corre perigo a profissão dos religiosos de cair em descrédito, bem como os templos das Dianas de serem desconsiderados”.
O que tem prevalecido e está prevalecendo, não é o amor à Religião com suas prerrogativas de Paz, de Fé, de Caridade, de Fraternidade, de Amor e adoração a Deus, mas sim os templos, os altares, os ídolos, os sacerdotes e seus sacramentos.
Essa é a infelicidade do nosso planeta; ^ a causa das grandes calamidades, das quais a maior de todas é a guerra.
Se prevalecesse a Religião, no verdadeiro sentido da palavra, haveria essas dissenções, esses crimes, essa falta de amor, essa falta de fé que se nota em toda a parte?
Mas prossigamos na transcrição dos Atos, que vínhamos fazendo, versos 29-41:
"A cidade encheu-se de confusão e todos correram ao teatro arrebatando os macedônios, Gaio e Aristarco, companheiros de viagem de Paulo. Querendo Paulo apresentar-se ao povo, os discípulos não Iho permitiram; também alguns principais da Ásia, que eram seus amigos, mandaram rogar-lhe que não se aventurasse a ir ao teatro. Uns, pois, gritavam de um modo, outros de outro; porque a assembleia estava em confusão, e a maior parte não sabia porque causa se havia reunido. E eles tiraram Alexandre do meio da turba, e os judeus impeliram-no à frente. E Alexandre, acenando com a mão, queria apresentar uma defesa ao povo. Mas quando perceberam que ele era judeu, todos a uma voz gritaram por espaço de quase duas horas: Grande é a Diana dos Efésios? E o secretário, tendo apaziguado a multidão, disse: Efésios, que homem há que não saiba que a cidade de Éfeso é zeladora do templo da grande Diana, e da imagem que caiu de Júpiter. De sorte que não podendo ser isto contestado, convém que fiqueis quietos e nada façais precipitadamente. Porque estes homens, que trouxestes aqui, não são sacrílegos nem blasfemadores da nossa deusa. Se, pois, Demétrio e os artífices que estão com ele, têm alguma queixa contra alguém, os tribunais estão abertos, e há procônsules; acusem-se uns aos outros. Mas se alguma coisa requereis, será resolvida em assembleia regular. Porque nos arriscamos a ser acusados pela sedição de hoje, não havendo motivo algum que nos permita justificar este ajuntamento. Dito isto, despediu a assembleia".
Os comentários que poderíamos fazer já estão plenamente justificados pelo secretário, cujo bom senso não poderia, naqueles templos, resolver a questão de melhor forma.
Corroborando o que acima dissemos, a “Grande Diana dos Efésios”, tem sido e é até hoje a religião da turba que os Demétrios açulam contra todos os que não participam dos seus bastardos interesses e não se rendem às injunções sectárias que dividem a Humanidade.
Tomem nota desta lição, para ajuizarem com reta justiça o motivo pelo qual o sacerdotalismo e artífices de (dolos perseguem os pioneiros que compõem a falange que trabalha pela Espiritualização da Humanidade.
(1) — Diana — deusa mitológica, filha de Júpiter e de Latona. Era patrona dos caçadores, e a grande deusa dos Efésios.
Autor: Cairbar Schutel
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