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Albert de Rochas - Casos de Levitação


CAPÍTULO IV

CASOS CONTEMPORÂNEOS DO OCIDENTE

 

A - Observações do magnetizador Lafontaine

Lafontaine, em suas excursões através da Europa, teve ocasião de observar, entre os crisíacos que lhe tra­ziam para serem curados pelo magnetismo, alguns fenô­menos que podem relacionar-se com aqueles que acaba­mos de mencionar.

Assim, conta ele (24) que uma donzela de família nobre, na Inglaterra, apresentava todos os sintomas da grande histeria descrita depois por Charcot, e essa agi­lidade extraordinária que mais raras vezes tem sido cons­tatada. Quando chegou a casa dela, encontrou-a esten­dida sem movimento num leito, sem respiração aparente. A vida parecia tê-la abandonada. O seu rosto, de palidez baça, estava coberto de suor frio. De repente, esse ca­dáver animou-se.

Com um pulo, a donzela foi ao meio do aposento, arregalados e fixos os olhos, gesticulando com os bra­ços, elevando-se na ponta dos dedos dos pés e correndo, semivestida, pelo quarto; atirou-se ao chão, reboleou-se em convulsões horríveis, chocando o corpo em todas as partes, dando gritos e batendo nas pessoas que procura­vam retê-la para evitarem que ela se ferisse. Depois, endireitando-se de repente e pronunciando palavras entre­meadas de sons inarticulados, caminhou direita e firme, saltou a alturas extraordinárias. Em seguida, torcen­do-se em atitudes impossíveis, pôs a cabeça entre os joelhos, levantou ao ar uma das pernas, e girou sobre a outra com rapidez espantosa, conservando ao mesmo tempo a cabeça perto do soalho.

Umas vezes endireitava-se, soltando gritos de terror como se visse um espetáculo horrível; outras abraçava com amor fantasmas; depois, rolava exausta pelo tapete.

Em seguida, pulava de novo e corria para um e outro lado do aposento, pondo os pés sobre os móveis, sobre os copos, as xícaras, o globo da pêndula, sobre esses frágeis nadas que guarnecem as prateleiras, e isso sem quebrar, sem deitar coisa alguma ao chão. Depois, sentavam-se no tapete, conversando com um ser imaginá­rio, cujas respostas imaginárias ela escutava. As convul­sões apresentavam-se outra vez. . . Logo depois, os seus olhos exprimiam indizível arroubamento; ela caía de joe­lhos; os seus lábios murmuravam palavras melífluas como uma oração.

Estava em êxtase. A inspiração apossou-se dela; recitou versos; compôs poesias; anunciou fatos, sucessos que haviam de suceder; elevou-se ao ar como para voar; depois, finalmente, tornou a cair em completa prostração, inerte, sem movimento, sem respiração perceptível. Es­tava terminada a crise, que durara duas horas.

Depois desses terríveis abalos, a donzela caía num sono muito longo, durando algumas vezes dois dias, nos quais não tomava alimento algum. Lafontaine diz que empreendeu a cura dessa don­zela e que, magnetizando-há durante três meses, fez desa­parecer as crises, que lhe haviam durado desde os 14 até os 18 anos.

Em 1858, visitou a aldeia de Morzina, em Chablais, onde se declarara uma epidemia de convulsionarias entre as donzelas de 11 a 20 anos. (Das 23 pessoas atacadas, apenas uma era rapaz, com 13 anos de idade.).

As possessas puseram-se a correr pelos bosques, a subir às árvores com extraordinária agilidade, e a balan­çar-se na parte mais alta dos grandes pinheiros; porém, se a crise cessa enquanto estavam em cima, nada era mais singular que o seu embaraço para descerem. Além disso, essas meninas não se recordavam, ao despertarem, do que se passara durante a crise.

Uma delas, Vitória Vuillet, com dezesseis anos de idade, de um rosto simpático e gênio muito afável, era a mais exaltada. Não só corriam os campos durante horas inteiras sem ficar cansada, falando e gesticulando sem­pre, ou subia ao cimo das mais altas árvores e descia com extrema rapidez, mas também, quando estava no cimo dos mais altos pinheiros, atirava-se de um para outro, como faria um esquilo ou um macaco. . .

Recorreram a Lafontaine para que tratasse dela, e levaram-na para a sua casa, em Genebra.

Vimo-la pela primeira vez em nossa casa a 3 de abril de 1858. Estava em crise. Falava com voz cava e sepulcral, ela, que tinha a voz suave e clara.

Dizia frases como esta: Sou um demônio do in­ferno donde saí para atormentar Vitória até acabar por levá-la comigo. Ouvis o tinir das cadeias? Ouvis o fogo a crepitar e os gritos dos condenados que estão a arder? Isto alegra o coração e dá prazer. Depois, saltava a uma altura pasmosa, dava gritos roucos, retorcia o corpo a ponto de tocar com a cabeça nos calcanhares. Em se­guida, reboleava-se pelo chão. Num pulo ela ficava de pé, girava com velocidade espantosa e parava instantanea­mente. Fazia depois grandes gestos, articulava sons incompreensíveis, e saltava sobre os braços de uma ca­deira; pulando de repente, achava-se suspensa no espal­dar desse móvel, em posição indescritível.

Em seguida, corria por cima de todos os móveis, pondo um pé no encosto de uma poltrona, o outro no espaldar de uma cadeira; depois, atirava-se para cima de outros móveis, dando assim, sem perder o equilíbrio, volta ao nosso gabinete e à nossa sala de visitas, falando sempre. Entretanto, depois de termos observado bem essa crise, quando pusemos uma das mãos na cabeça da donzela e a outra no seu estômago, todo esse maravilhoso desapareceu logo, e apenas ficou à nossa frente uma doente que tinha estertores e se torcia em convulsões que fizemos cessar quase instantaneamente. Depois de os termos magnetizado com grandes passes durante trinta minutos, e desembaraçado, Vitória sentiu-se muito bem.

Lafontaine acrescenta que, após quinze dias de mag­netização, Vitória achou-se inteiramente curada das suas crises e das dores de cabeça ou do estômago. Essa cura foi definitiva, como lhe certificou um tio da donzela que a levara e que com ela residia em Genebra.

Eis outro caso referido pelo mesmo autor (tomo II, pág. 96)

Uma doente minha, a Sra. de A......, que eu sonambulizara durante o seu tratamento, proporcionou-me ensejo para fazer várias observações curiosas. Um dia em que, mais doente, ela ficara no leito e tinha junto de sí uma de suas parentas, cheguei para magnetizá-la.

Adormeci-a prontamente, depois localizei a minha ação sobre o seu estômago e as suas pernas. Fiquei silencioso enquanto a magnetizava como sempre faço nos casos graves, o que deu motivo a que a jovem Laura, aborrecendo-se, passasse para a sala de visitas, cujas portas estavam abertas. Depois de ter lançado um olhar distraído pelos álbuns espalhados por cima de uma mesa, ela aproximou-se do piano, abriu-o, preludiou alguns acor­des, e ficou algum tempo numa espécie de abstração.

Às primeiras notas dos acordes, a minha doente ex­perimentara, por todo o corpo, um ligeiro frêmito que, pouco a pouco, se acalmara durante o tempo da pausa; porém, quando a jovem Laura principiou a tocar um tre­cho muito patético, que ia direito à alma, minha doente pareceu sair do estado de entorpecimento em que a imer­gira o sono.

Animou-se-lhe o rosto, sentou-se no leito e, conti­nuando a música com o mesmo ritmo, achou-se, num pulo, em pé e direita, por cima do leito, com os olhos arrega­lados e fixos. Seus pés deslizaram depois até à beira do leito, sem haver movimento algum dos músculos.

Aí, os pés passaram com suavidade para fora do leito e, vagarosamente, desceram ao mesmo tempo, sem ponto algum de apoio, até ao tapete, como se tivessem estado sobre um desses alçapões de que se servem nos teatros para fazerem descer as divindades do meio das nuvens. Todo o corpo parecia sustentado no ar por um fio invisível. Seus membros estavam inteiriçados.

Eu olhava com profunda estupefação, sem com­preender coisa alguma, mas os meus olhos estavam bem abertos. A minha inteligência e a minha razão velavam e estavam no seu posto. Não me podia enganar. Os pés e as pernas estavam nus. A própria Sra. de A... Estava apenas coberta com uma camisa e uma mantilha leve. Entretanto, tendo descido até ao tapete, os seus pés continuaram a escorregar junto, sem o menor movi­mento, sem a menor contração. Ela parecia uma estátua colocada numa prancha à qual estivessem puxando e que resvalasse sem nenhum solavanco, como se houvesse sido posta num trilho.

Eu, admirado, a seguia com os meus braços em volta do seu corpo, mas sem lhe tocar, a fim de poder sustê-la, se sobreviesse um acidente.

A Sra de  A... Chegou assim até às portas abertas da sala de visitas. A jovem Laura, ao vê-la aparecer, pálida, toda de branco, com os cabelos em desordem cain­do-lhe pelas espáduas, com os olhos fixos, baços e sem vida, como um fantasma, soltou um grito de pavor e dei­xou de tocar. Imediatamente alquebrou-se o corpo da Sra. de A . . . Não pude retê-la. Movimentos convulsivos produziram-se nos seus membros; depois, ficou hirta, fria, o rosto lívido como a morte; era um cadáver.

A meu pedido, Laura, toda trêmula, tocou algumas notas que pareciam ser percebidas pela doente e que, continuando, a fizeram voltar à vida. Não tardou que a música operasse o seu efeito. A Sra. de A... Levantou-se, deitando a cabeça para trás, abrindo os olhos que se tinham fechado. Estendendo os braços para um ser invi­sível, caiu de joelhos. A sua cabeça bateu no tapete com humildade; depois, com movimentos da mais suave volú­pia, contornou o corpo em atitudes cuja graça não se pode exprimir. Nunca vi nada tão belo nem tão gracioso. Parecia que tudo o que há de imortal em nós agia e se revelava em suas atitudes.

Passado certo tempo, atraí de novo a Sra. de  A..., que deslizou para trás, sempre em êxtase. Fiz cessar a música quando ela estava perto do leito e, com um mo­vimento brusco, deitei-a ao comprido. Então, seu corpo tornou-se em pouco tempo tão frio e tão hirto como um verdadeiro cadáver. Todo o movimento, toda a respira­ção desapareceu. O pulso, como o coração, não mais se fazia sentir. Parecia que sua alma se escapara e não me ficara senão o corpo da doente. Era para aterrar e para fazer-me perder a cabeça, sobretudo ao ver a dor e o desespero de Laura, que acusava a si própria de tê-la matado e perdia os sentidos num desmaio que durou uma hora.

Mandei que os criados a levantassem e conduzissem para outro quarto, e fiquei só com a doente, que não dava nenhum sinal de vida.

A força de insuflações quentes sobre o coração, o estômago e o cérebro, fiz que ela voltasse gradualmente à vida. Isto durou meia hora. Fiz-lhe depois passes em todo o corpo, desde a cabeça até os pés, durante duas horas, mantendo um sono benéfico e restaurador. No fim desse tempo, arquejante, exausto, mas triunfante e con­tente comigo mesmo, acordei a doente e desembaracei-a inteiramente.

Então, tive a felicidade de ouvir a Sra. de A... Dizer que jamais se sentira bem como nesse momento. Além disso, a paralisia das pernas, de que essa senhora padecia, recebera um abalo que, produzindo-lhe tão grande me­lhora no mesmo dia ela pôde dar, completamente acor­dada, duas voltas pelo quarto, mal amparada, resultado este tanto mais maravilhoso quanto havia dois meses que ela não podia sustentar-se nas pernas. Depois do que sucedera, a melhora aumentou de tal modo que, três semanas depois, a Sra. de A . . . Estava completamente curada.

Autor: Albert de Rochas
Fonte: Levitação.
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