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Vade Mecum Espírita

Dr. Antônio Pinheiro Guedes


A Idade Média na Idade Atômica

PINHEIRO GUEDES

          Fácil reconhecer a dificuldade do homem para abraçar a fé raciocinada que o Espiritismo lhe oferece, se lançarmos uma visão de conjunto sobre a luta acirrada, curiosa e paradoxal entre a superstição e a Ciência na atualidade, o que eqüivale a dizer entre a Idade Média e a Idade Atômica em pleno século XX. Como a Ciência não lhes confirma a idéia de Deus que trazem, inarredável, nas consciências, os homens procuram com avidez essa confirmação fora dela. E surgem os disparates .

          De fato, as relações da estatística mundial provam a fome de maravilhoso que atormenta a Humanidade acossada de sofrimento, para quem a Ciência só por si, com todas as suas conquistas extraordinárias, não consegue saciar a sede de verdade, à vista do frio do materialismo que a enregela, quase que transformado em dogma da inteligência. Falta-lhe Deus nas entranhas, falta-lhe alma aos raciocínios e o mundo aspira ao alimento do Amor dos Amores e da Causa das Causas.

          Se a lógica da Ciência orienta milhões de destinos, a cegueira da crendice dirige outros tantos. Senão vejamos.

          Na França, onde alteia o gênio da latinidade, os gastos nacionais com predições ultrapassam de muito os bilhões empregados no orçamento das pesquisas científicas do país.

          Nos Estados Unidos, baluarte da civilização moderna, milhões de criaturas integram a clientela dos adivinhos.

          Nunca foi tão avantajado na Terra o contingente de organizações, livros, folhetos e revistas de vaticínios, encantamentos, bruxarias e mesmo de ficção científica, exaltando o fantástico e o sobrenatural, como nos dias que passam.

          Nunca tantos curiosos consultaram tantos embusteiros, impostores, cartomantes, ledores de buena-dicha e os mais diversos e extravagantes charlatães, como agora.

          Nunca se conjeturou, se fantasiou, se abusou e se exagerou tanto, como hoje, um tema delicado qual o dos discos voadores e o das conquistas da Astronáutica.

          E nunca houve, além disso, tanto extremismo entre a penúria de muitos e a abastança de alguns, tanta distância entre a fome do povo e a pompa em nome do Cristo, qual ocorre na atualidade.

          Perguntar-se-á: onde há lógica em tudo isso? Argumentamos, porém, com a vida. Isso é a fuga da experiência rotineira para o sonho poético, a atração do desconhecido, o temor do futuro vazio, o anseio de transpor horizontes, na direção do sem fim.

          Dentro desse quadro de contra-sensos e antagonismos, realidades e fantasias, certezas e dúvidas, é natural que o Espiritismo também sofra a investida das ilusões de criaturas incautas ou inexperientes, mas isso em nada lhe altera o conteúdo doutrinário ou esmaece o clarão dos postulados. E ele caminha.

          Pregando a mediunidade técnica, combate hoje as mesmas mediunidades empíricas e as mesmas idéias supersticiosas que proliferaram nos séculos medievais. Planta que medra no terreno ingrato das conveniências e comodidades crônicas da Humanidade, são normais as barreiras com que se defronta, constituindo vitória sem precedentes o seu progresso em apenas cem anos de existência.

          Assim, ninguém se surpreenda — seja espírita ou não-espírita — com as práticas baseadas na mediunidade empírica e que se apresentam com o nome do Espiritismo. Empeço para raciocinar com bom-senso não é problema apenas da Nova Revelação; é, e sempre foi, o problema da própria Ciência.

          Nada têm a ver com a Doutrina Espírita os excessos desse ou daquele agente de perturbação ou as interpretações infelizes dessa ou daquela instituição, ainda mesmo quando se rotulem de princípios ou práticas espíritas, do mesmo modo que nada têm a ver, com a Ciência, as absurdidades que se fazem ou se propagam em seu nome pelos exploradores da boa fé popular.

          Não importa o que se creia ou o que descreia. O Mundo Espiritual está aí, a morte esfuma todas as fantasias, os fatos argumentam por último: as verdades espíritas são indestrutíveis. 

Autor: Dr. Antônio Pinheiro Guedes
Fonte: Seareiros de Volta
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