Avisos de Morte
D. Maria Cândida de Lacerda Machado, senhora tão distinta pela inteligência como por virtudes, que viveu na boa sociedade doRio de Janeiro, tinha em S. Paulo, estudando na Faculdade de Direito, o filho de seu primeiro matrimônio.
Um dia, recebeu carta do moço, que se achava de perfeita saúde, e, na noite desse mesmo dia, ao apagar a vela para dormir, ouviu distintamente o som da queda de pesado castiçal de prata, pousado sobre uma mesa, a alguma distância da cama.
Acreditando que gatos ou ratos lançaram abaixo o estimado objeto, acordou o marido, que, acendendo a vela, viu, com ela, o castiçal em seu lugar.
- Foi sonho - disse ele. - Não, que eu estava acordada, respondeu a senhora.
E, depois de longa discussão, apagaram de novo a vela e voltaram à cama.
Imediatamente fere-Ihes os ouvidos o som da queda do castiçal; ao que acudiu o homem, dizendo: - Agora, sim: garanto que caiu.
Acesa a vela, foram surpreendidos com a presença do castiçal no seu lugar!
Muito tempo levaram em conjeturar, até que resolveram repousar.
Deu-se, então, um fato singular para a senhora, ainda acordada, enquanto o marido já dormia.
Uma mão deslizou doce e amavelmente pela testa de D. Maria, e, tomando-lhe os bastos e longos cabelos, soltos, correu por eles até às pontas.
- É meu filho, que me vem dar sinal de ter morri do! - exclamou a angustiada senhora. Reconheci-lhe a mão, fazendo, com meus cabelos, o que sempre foi seu gosto. É ele!
E não houve como dissuadi-la daquela ideia, nem durante o resto da noite, que levou a prantear o filho, nem no dia seguinte, quando famílias amigas acudiam a convencê-la de que era infundado seu juízo à vista da carta que dava o moço de perfeita saúde.
Entre os que foram visitá-la, figuraram os Drs. Mariano José Machado e Joaquim Pinto Neto Machado, respeitáveis médicos, que nos deram a notícia do fato, no mesmo dia.
Dois ou três dias depois, chegou o vapor de Santos, única via célere, de então, entre a Corte e a província de S. Paulo, e por ele, veio a notícia da morte do jovem, colhido por uma enfermidade, exatamente no dia em que foi aqui recebida sua carta.
Autor: Dr Bezerra de Menezes
Fonte: A Loucura sob Novo Prisma