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Divindade do Cristo *


“Vai para os meus irmãos e dize-lhes
que eu subo para o Meu e Nosso Pai”
Posição dos espíritas no tocante à divindade de Jesus
– Elevação espiritual de Maria.
          Os espíritas são, em geral, acusados de não aceitarem a divindade de Jesus, não considerarem Maria com o devido respeito e não admitirem a sua elevada posição na hierarquia espiritual. De vez em quando, leitores pertencentes a outras religiões, mas que nos honram com a sua atenção, escrevem-nos a propósito. Procuraremos dar, nesta crônica, uma resposta geral às perguntas que nos são formuladas, advertindo que não temos a intenção de ferir suscetibilidades ou melindrar as crenças alheias. Nossa intenção é apenas a de esclarecer a posição espírita, que os leitores poderão aproveitar ou reprovar, de acordo com o critério próprio de cada um. Não tentamos proselitismo. Queremos apenas responder com clareza.
          O problema da divindade de Jesus implica posições diversas, decorrentes do sentido que atribuirmos à palavra “divindade”. Os católicos e os protestantes, ao se referirem à divindade de Jesus, atribuem-lhe natureza divina no sentido de participação na própria essência da Divindade. Jesus é divino porque é Deus, porque participa do mistério da Divindade. Ele mesmo é Deus. Os espíritas negam essa interpretação da divindade de Jesus, mas não a sua natureza divina. Para o Espiritismo, Jesus não é Deus, não participa do mistério da Pessoa Única, mas nem por isso deixa de ser divino.
          Os espíritas rejeitam, portanto, o dogma da Trindade e o mistério da participação da pessoa de Jesus na Suprema Pessoa. Segundo o Espiritismo, Deus é Uno. Dele procedem todas as coisas. Jesus é Seu filho, como todos nós o somos. Nesse ponto, estamos em pé de igualdade com Jesus, somos irmãos do Divino Mestre. Mas enquanto somos humanos, Jesus é divino. E o é, porque está muito acima de nós, no tocante à realização espiritual. Ele é, pois, o nosso Irmão Maior, que já conseguiu depurar-se das imperfeições humanas, atingindo a divindade do espírito, que o liga a Deus, como um filho dileto ao Pai amoroso. Jesus é para a Terra como o Demiurgo de Platão. É a suprema autoridade espiritual do nosso planeta. Deve ser adorado em espírito e verdade, pelos que compreendem a sua divindade, mas não pode ser confundido com Deus, que é “a inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas”. Jesus é o preposto de Deus na Terra. Mas o Universo é infinito e Deus é o supremo arquiteto e o supremo regente de todos os mundos. Os espíritas se recusam a confundir o salvador planetário com a Inteligência Infinita.
          Essa posição espírita encontra apoio nas próprias palavras de Jesus. Na ressurreição, Ele disse a Maria Madalena: “Vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai”, como vemos em João, 20:17, confirmado por Mateus, 28:10, onde se repete a expressão “meus irmãos”. Também Paulo, cujas palavras serviram para tantas contradições teológicas, lembra em Hebreus, 6:20, que Jesus é “nosso precursor”, e em Romanos, 8:17, que somos filhos de Deus e portanto Seus herdeiros, acrescentando: “e co-herdeiros de Cristo”. Somos, pois, filhos de Deus e co-herdeiros de nosso Irmão Maior, que é Jesus, na herança de Deus.
          No tocante a Maria, o Espiritismo a respeita como Espírito da mais alta evolução, “vaso escolhido” para servir de veículo à encarnação do Senhor. O que os espíritas não admitem é que se chame a Divina Mãe de Jesus de Mãe de Deus, por considerarem isso um absurdo. Como pode uma criatura ser mãe do Criador? Mãe de Jesus, sim; mas de Deus, não. E com isso os espíritas não faltam com o respeito à Mãe de Jesus. Apenas evitam cometer o que consideram um erro, que de maneira alguma seria grato ao próprio e puríssimo Espírito de Maria de Nazaré.
          A posição espírita, portanto, só pode ser considerada irreverente ou pecaminosa dentro de um ponto de vista dogmático, num julgamento sectário. Essa posição, aliás, coincide com a de cristão dos primeiros tempos, bem como e com a de figuras esplendentes do Cristianismo entre os séculos III e V, quando se forjava pela força a unidade da igreja, com a supressão violenta das heresias. O que então foi considerado herege, ainda hoje o é. Mas estamos vivendo em novos tempos, e o que hoje prevalece não é mais o princípio de autoridade, e sim o de razão. Os espíritas defendem a sua posição com argumentos racionais, e não através de princípios fideístas. Jesus é para o Espiritismo o supremo guia e modelo da humanidade, como vemos em “O Livro dos Espíritos”, pergunta 625. Mas não é Deus, porque Deus, como vemos na pergunta primeira do mesmo livro, é “a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas”, irredutível ao processo efêmero, finito e obscuro da encarnação humana.
Autor: O Homem Novo
Fonte: José Herculano Pires
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