Gabriel Delanne.
As conseqüências
Que se deve concluir de todos esses fatos? Em primeiro lugar, somos forçados a admitir que o corpo e a alma são duas entidades absolutamente distintas, que se podem separar, cada uma delas com caracteres inequívocos de substancialidade. Também devemos notar que o organismo físico não passa de um envoltório que se torna inerte, logo que o princípio pensante se separa dele. A parte sensível, inteligente do homem reside no duplo e se mostra como causa da vida psíquica. Desde então, será lógico que, para explicar os fenômenos espíritas, se imaginem outros fatores, com exclusão da alma humana?
Evidentemente não e todas as teorias que recorrem à intervenção de seres extraordinários, como demônios, elementais, elementares, ogros, idéias coletivas, não suportam o exame dos fatos, nem explicam os fenômenos observados. No caso em que o Espírito de um vivo se manifesta de qualquer maneira, possível se nos torna remontar do efeito à causa e descobrir a razão eficiente do fenômeno: é a psique humana, em ação temporária fora dos limites do seu organismo.
Sabemos que ela haure do corpo material a força de que necessita para suas manifestações. Abandone definitivamente o seu corpo material, e essa alma será obrigada a recorrer a um médium, para dele tomar aquela energia indispensável. Assim, claramente se explicam todas as manifestações. Há nesses fatos, que se desenrolam em séries paralelas, não só evidente parentesco, mas uma semelhança tão grande, que chega à identidade. Logo, em boa lógica, a causa é necessariamente a mesma: em todos os casos, a alma.
Essa continuidade foi tão bem sentida, que alguns incrédulos, como Hartmann, tentaram explicar todos os fatos espíritas pela ação incorpórea e inconsciente do médium. Mas, os fenômenos, em grandíssimo número, responderam vitoriosamente a essa inexata asserção. Os Espíritos, por provas irrecusáveis, revelaram-se dotados de uma personalidade inteiramente autônoma e independente por completo das dos assistentes. Demonstraram de modo peremptório a sobrevivência de que gozavam, por uma quantidade prodigiosa de comunicações, fora, em absoluto, dos conhecimentos de todos os experimentadores.
[i] Firmaram sua identidade, por meio de assinaturas autênticas; pela narração de fatos que só eles podiam conhecer; por predições que minuciosamente se cumpriram. Numa palavra: provaram cientificamente a imortalidade.
Foi certamente a mais importante e a mais fecunda descoberta do século XIX. Chegar a conhecimentos positivos sobre o amanhã da morte é revolucionar a humanidade inteira, dando à moral uma base científica e uma sanção natural, à revelia de todo e qualquer credo dogmático e arbitrário.
Sem dúvida, mesmo quando essas consoladoras certezas hajam penetrado as massas humanas, a humanidade não se achará só por isso bruscamente mudada, nem se tornará melhor subitamente; disporá, todavia, da mais forte alavanca que possa existir para derribar o montão de erros acumulados desde há seis mil anos. Seus instrutores poderão falar com autoridade dos deveres que correm a todo aquele que vem a este mundo. Exporão aos olhos dos mais recalcitrantes os destinos que os aguardam, e a vida futura, na qual a maioria já não crê, se tornará tão evidente quanto a claridade do Sol. Compreender-se-á então que a morada terrestre não é mais do que um degrau nos destinos do homem; que alguma coisa de mais útil há do que a satisfação dos apetites materiais e que cada um terá que conseguir, a todo custo, refrear suas paixões e domar seus vícios. Esses os benefícios indubitáveis que o Espiritismo traz consigo.
Bendita e emancipadora doutrina! Que as tuas irradiações se estendam rapidamente por toda a Terra, a fim de levarem a certeza aos que duvidam, de abrandarem as dores dos corações dilacerados pela partida de seres amados com ternura e de darem aos que lutam com as asperezas da vida a coragem de superar as duras necessidades deste mundo ainda tão bárbaro.
[i] Aksakof, Animismo e Espiritismo, 3ª parte. Vejam-se as provas, de todos os gêneros, existentes acerca das manifestações. Consultem-se também as nossas obras: O Fenômeno Espírita e As pesquisas sobre a mediunidade.
Autor: Gabriel Delanne
Fonte: A Alma é Imortal