Caso LXXVI - O sr. William Ford, residente em Reading, na Inglaterra, escreveu, nos seguintes termos, a Light (1921, p. 569):
Na minha mocidade, eu possuía um cão-pastor de raça cruzada e cauda curta, que fora destinado a reunir e guiar os carneiros e os bois. Havíamos passado juntos bons dias felizes na fazenda paterna, mas chegou o dia em que os negócios nos obrigaram a deixar a casa e o meu cão foi dado a um velho fazendeiro que residia perto de Maidstone. Logo, ele e o cão se tornaram amigos inseparáveis e, onde o homem fosse, o animal o seguia, amizade enternecedora que durou três anos.
Certa manhã, o velho fazendeiro não se levantou na hora habitual e seu filho foi ver o que podia significar essa infração aos costumes paternais. O velho, com a maior calma, anunciou que há sua hora era chegada e pediu que lhe trouxesse o cão, que ele queria ver uma vez ainda, antes de falecer.
O filho tentou persuadir seu pai dessa afirmação, que, para ele, era o produto de uma lúgubre fantasia, mas, como sua insistência contrariasse o velho, foi buscar o cão e o levou para o pai. Logo que o animal entrou no quarto, pulou para cima da cama e começou a agradar o velho dono, para, pouco depois, se retirar para um canto e começar a uivar lamentosamente. O animal foi levado para fora, acariciado, mas nada conseguia confortá-lo ou fazê-lo calar. Acabou por se retirar para o seu canil e entregar-se a um abatimento tão profundo e tão desesperado que morreu às oito e meia da noite. Seu velho dono o seguiu na morte, falecendo às dez horas.
Dez anos depois, achava-me sentado num centro experimental particular e, num dado momento, o médium teve um sobressalto. Indagado sobre o que havia visto, respondeu: Pareceu-me ver um urso, o que não era senão um cão. Surgiu, no centro, de um pulo, apoiou as patas sobre os joelhos do sr. Ford e ele o acariciou. Fez em seguida uma descrição minuciosa do cão que aparecera, a qual correspondia inteiramente à do meu cão-pastor. O médium conclui, dizendo: Tinha um focinho que parecia sorrir. Esse detalhe se adaptava bem ao animal e eu não duvido de modo algum de sua identidade.
Neste caso, a premonição de morte por parte do animal é menos interessante do que nos casos precedentes, pois que ela se produziu apenas meio dia antes do falecimento, quando o velho já sabia que estava para morrer. Essas circunstâncias não impedem, entretanto, que houvesse, integralmente, como nos outros casos, rima percepção de morte iminente pelo cão. Há, além disso, o episódio emocionante da morte do animal em conseqüência de sua profunda dor.
O último incidente da aparição do animal durante uma sessão mediúnica, dez anos depois de sua morte, transforma esta narração em um caso de transição entre a presente categoria e a seguinte, na qual tratamos dos casos de aparições identificadas de formas de animais.
No meu conjunto de fatos, não se encontram outros exemplos de premonição de morte por parte dos animais, o que não significa, de modo algum, que as manifestações desta espécie sejam raras, mas apenas que se negligenciou, até aqui, de as reunir. O que contribui para demonstrar isso é que, quando se faz alusão aos fatos desta natureza nos meios populares, provocam-se sempre narrações de casos semelhantes. Essas, infelizmente, são feitas de uma maneira tão vaga ou passaram por tantas bocas que não se pode acolhê-las numa classificação científica.
Resulta daí que, embora tudo contribua para provar a realidade das manifestações em questão, seria, no entanto, prematuro comentá-las, visto que o exame delas não será oportuno senão quando se chegar a acumular, em quantidade suficiente, os materiais brutos dos fatos, de maneira a poder analisá-los, compará-los e classificá-los de acordo com um método rigorosamente científico.
Autor: Ernesto Bozzano
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