Assuntos para Pesquisa - Astronomia
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS.
INFLUÊNCIA DOS PLANETAS SOBRE AS PERTURBAÇÕES
DO GLOBO TERRESTRE.
Extraímos o que se segue de uma carta que nos foi dirigida de Santa Fé de Bogotá (Nova Granada), por um de nossos correspondentes, o Sr. doutor Ignácio Pereira, médico, cirurgião, membro fundador do Instituto homeopático dos Estados Unidos de Colômbia:
"Há três anos que, pela mudança das estações, em nosso país, a de verão, tendo se tornado muito longa, sobrevieram a algumas plantas doenças inteiramente desconhecidas em nosso país; as batatas inglesas foram atacadas da gangrena seca e, pelas observações microscópicas que fiz nas plantas atingidas dessa doença, reconheci que ela é produzida por um parasita vegetal chamado perisporium solani. Há três anos nosso globo tem sido vítima de desastres de todas as espécies; as inundações, as epidemias, as epizootias, a fome, os furacões, as comoções do mar, os tremores de terra têm, alternativamente, assolado diversos países.
"Sabendo que quando um cometa se aproxima da Terra, as estações se
desregularizam, pensei que esses astros poderiam, igualmente, produzir uma ação sobre os seres orgânicos, ocasionar perturbações climatéricas, causas de certas doenças, e talvez influir sobre o estado físico do globo, pela produção de fenômenos diversos.
"O espírito de meu irmão que interroguei a esse respeito, limitou-se a me responder que nisso não é um cometa que age, mas o planeta Júpiter que, a cada quarenta anos, está em seu período de maior aproximação da Terra, recomendando-me para não prosseguir este estudo sozinho.
"Preocupado com sua resposta, estudei a crônica de quarenta anos atrás, e achei que, então, as estações foram irregulares como hoje, nos países; sobreveio ao trigo a doença conhecida sob o nome de anublo; houve também pestes sobre os homens e sobre os animais; tremores de terra que causaram grandes desastres.
"Esta questão me parece importante; é porque, se julgais a propósito submetê-la aos Espíritos instrutores da Sociedade Parisiense dos Estudos Espíritas, eu vos seria muito reconhecido de me fazer conhecer a sua opinião."
RESPOSTA
(Paris, 18 de setembro de 1868.)
Não há, na Natureza, um fenômeno, de tão pouca importância que seja, que não seja regulado pelo exercício das leis universais que regem a criação. Ocorre o mesmo nos grandes cataclismos, e se males de todas as espécies maltratam a Terra em certas épocas, é não somente porque é necessário que assim seja, em razão de suas conseqüências morais, mas é também porque a influência dos corpos celestes uns sobre os outros, as reações compostas de todos os agentes naturais, devem fatalmente trazer um tal resultado.
Estando tudo submetido a uma série de leis, eternas como a que os criou, uma vez que não poderia remontará sua origem, não há um fenômeno que não esteja submetido a uma lei de periodicidade, ou de série, que lhe provoca o retorno em certas épocas, nas mesmas condições, ou em seguindo, como intensidade, uma lei de progressão geométrica, crescente ou decrescente, mas contínua. Nenhum cataclismo pode nascer espontaneamente, ou, se seus efeitos parecem tais as causas que o provocam são postas em ação desde um tempo mais ou menos longo. Não são, pois, espontâneas senão em aparência, uma vez que delas não há nenhuma que não seja preparada de longa data, e que não obedeça a uma lei constante.
Partilho, pois, inteiramente da opinião expressa pelo Espírito de Jenaro Pereira, quanto à periodicidade das irregularidades das estações; mas quanto à sua causa, ela é mais complexa do que se supôs.
Cada corpo celeste, além das leis simples que presidem à divisão dos dias e das noites, das estações, etc., sofre revoluções que necessitam dos milhares de séculos para o seu perfeito cumprimento, mas que, como as revoluções mais breves, passam por todos os períodos, desde o nascimento até um auge de efeito, depois do qual há decrescimento até ao último limite, para recomeçar em seguida a percorrer as mesmas fases.
O homem não abarca senão as fases de uma duração relativamente curta, e da qual pode constatar a periodicidade; mas há as que compreendem longas gerações de seres, e mesmo de sucessão de raças, cujos efeitos, por conseguinte, têm para ele as aparências da novidade e da espontaneidade, ao passo que, se seu olhar pudesse se levar a alguns de séculos atrás, ele veria, entre esses mesmos efeitos e suas causas, uma correlação que ele não supõe mesmo. Esses períodos, que confundem a imaginação dos humanos pela sua extensão relativa, no entanto, não são senão instantes na duração eterna.
Lembrai-vos do que disse Galileu, em seus estudos uranográficos e tivestes o feliz pensamento de intercalar em vossa Gênese, sobre o tempo, o espaço e a sucessão indefinida dos mundos, e compreendereis que a vida de uma ou de várias gerações, com relação ao conjunto, é como uma gota d'água no Oceano. Não vos admireis, pois, de não poder agarrar a harmonia das leis gerais que regem o universo; o que quer que façais, não podeis ver senão um pequeno canto do quadro, é porque tantas coisas vos parecem anormais.
Num mesmo sistema planetário, todos os corpos que dele dependem reagem uns sobre os outros; todas as influências físicas aí são solidárias, e não há um único dos efeitos que designais sob o nome de grandes perturbações, que não seja a conseqüência do componente das influências de todo esse sistema. Júpiter tem as suas revoluções periódicas como todos os outros planetas, e essas revoluções não são sem influência sobre as modificações das condições físicas terrestres; mas seria um erro considerá-las como a causa única ou preponderante dessas modificações. Elas intervém por uma parte, como as de todos os planetas do sistema, como os próprios movimentos terrestres intervém para contribuir para modificar as condições dos mundos circunvizinhos. Vou mais longe: digo que os sistemas reagem uns sobre os outros, em razão da aproximação ou do afastamento que resulta de seu movimento de translação através das miríades de sistemas que compõem a nossa nebulosa. Vou mais longe ainda: digo que a nossa nebulosa, que é como um arquipélago na imensidade, tendo também o seu movimento de translação através das miríades de nebulosas, sofre a influência daquelas das quais se aproxima. Assim, as nebulosas reagem sobre as nebulosas, os sistemas reagem sobre os sistemas, como os planetas reagem sobre os planetas, como os elementos de cada planeta reagem uns sobre os outros, e, assim, cada vez mais até o átomo; daí, em cada mundo, as revoluções locais ou gerais, que não parecem perturbações senão porque a brevidade da vida não permite ver os seus efeitos parciais.
A matéria orgânica não poderia escapar a essas influências; as perturbações que ela sofre podem, pois, alterar o estado físico dos seres vivos, e determinar algumas dessas doenças que maltratam de maneira geral sobre as plantas, os animais e os homens; essas doenças, como todos os flagelos, são para a inteligência humana um estimulante que a leva, pela necessidade, à procura dos meios de combatê-las, e à descoberta das leis da Natureza.
Mas a matéria orgânica reage, a seu turno, sobre o espírito; este, por seu contato e sua ligação íntima com os elementos materiais, sofre também influências que codificam as suas disposições, sem, no entanto, tirar-lhe seu livre arbítrio, superexcitam ou abrandam a sua atividade, e, por isto mesmo, contribuem ao seu desenvolvimento. A efervescência, que se manifesta às vezes em toda uma população, entre os homens de uma mesma raça, não é uma coisa fortuita, nem o resultado de um capricho; ela tem a sua causa nas leis da Natureza. Essa efervescência, de início inconsciente, que não é senão um vago desejo, uma aspiração indefinida por alguma coisa de melhor, um desejo de mudança, se traduz por uma surda agitação, depois por atos que preparam as revoluções morais, as quais, crede-o bem, têm também a sua periodicidade, como as revoluções físicas, porque tudo se encadeia. Se a vida espiritual não estivesse circunscrita pelo véu material, verieis essas correntes fluídicas que, como milhares de fios condutores, ligam as coisas do mundo espiritual e do mundo material.
Quando se vos disse que a Humanidade chegou a um período de transformação, e que a Terra deve se elevar na hierarquia dos mundos, não vejais nessas palavras nada de místico, mas, ao contrário, o cumprimento de uma das grandes leis fatais no universo contra as quais toda má vontade humana se quebra.
Eu diria, em particular, ao Sr. Ignácio Pereira: Estamos longe de vos convidar a renunciar aos estudos que fazem parte de vossa futura bagagem intelectual; mas compreendeis, sem dúvida, que esses conhecimentos devem ser, como todos os outros, o fruto de vossos trabalhos e não o de nossas revelações. Podemos vos dizer: Fazeis rota falsa, e mesmo vos designar o verdadeiro caminho, mas pertence à vossa iniciativa levantar os véus dos quais estão ainda envolvidas as manifestações naturais que, até aqui, escaparam às vossas investigações, e de descobrir as leis pela observação dos fatos; observai, analisai, classificai, comparai, e da correlação dos fatos deduzireis, mas não vos apressais em concluir de maneira absoluta.
Eu terminarei em vos dizendo: Em todas as vossas pesquisas, tomai exemplo sobre as leis naturais, elas são todas solidárias entre si; e é esta solidariedade de ações que produz a imponente harmonia de seus efeitos. Homens, sede solidários, e avançareis harmonicamente para o conhecimento da felicidade e da verdade.
F.ARAGO.
Permiti-me acrescentar algumas palavras, como complemento, à comunicação que vem de vos dar o eminente Espírito de Arago.
Sim, certamente, a Humanidade se transforma como já se transformou em outras épocas, e cada transformação é marcada por uma crise que é, para o gênero humano, o que são as crises de crescimento para os indivíduos; crises freqüentemente penosas, dolorosas, que carregam com elas as gerações e as instituições, mas sempre seguidas de uma fase de progresso material e moral.
A Humanidade terrestre, chegada a um de seus períodos de crescimento, está em pleno, há um século, no trabalho da transformação; é porque ela se agita por todas as partes, presa de uma espécie de febre e como movida por uma força invisível, até que ela tenha retomado a sua situação sobre novas bases. Quem a vir, então, encontra-la-á muito mudada em seus costumes, seu caráter, suas leis, suas crenças, em uma palavra, em todo o seu estado social.
Uma coisa que vos parecerá estranha, mas que por isso não é menos uma rigorosa verdade, é que o mundo dos Espíritos que vos cerca sofre o contragolpe de todas as comoções que agitam o mundo dos encarnados; digo mais: nele toma uma parte ativa. Isto nada tem de surpreendente para quem sabe que os Espíritos não fazem senão um com a Humanidade; que dela saem e que nela devem reentrar; é, pois, natural que se interessem pelos movimentos que se operam entre os homens. Ficai, pois, certos de que, quando uma revolução social se realiza sobre a Terra, ela movimenta igualmente o mundo invisível; todas as paixões boas e más ali são superexcitadas como entre vós; uma indizível efervescência reina entre os Espíritos que ainda fazem parte de nosso mundo e que esperam o momento de nele reentrar.
À agitação dos encarnados e dos desencarnados se juntam às vezes, e freqüentemente mesmo, porque tudo se mantém na Natureza, as perturbações dos elementos físicos; é então, por um tempo, uma verdadeira confusão geral, mas que passa como um furacão, depois do qual o céu volta a se tornar sereno, e a Humanidade, reconstituída sobre novas bases, imbuída de novas idéias, percorre uma nova etapa de progresso.
É no período que se abre que se verá o Espiritismo florir, e que ele dará os seus frutos. É, pois, para o futuro, mais do que para o presente, que trabalhais; mas era necessário que esses trabalhos fossem elaborados antes, porque preparam os caminhos da regeneração pela unificação e a racionalidade das crenças. Felizes aqueles que os aproveitam desde hoje, será para eles tantos ganhos e dificuldades poupadas.
Doutor BARRY
Autor: Allan Kardec
Fonte: Revista Espírita Outubro - 1868