O Projeto Espírita em face das Terapias Inócuas
Allan Kardec ressalta que “a característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade.”(1) As revelações espirituais surgem gradualmente, consoante nossa capacidade de compreendê-las, sobretudo pelas credenciais do amadurecimento moral e intelectual. A Codificação não surgiu como conteúdo pétreo gravado em monolítico. Ademais, nem tudo pôde ser revelado à época da Codificação, todavia, esse fato não nos autoriza interpretar o atual movimento espírita brasileiro sem as diretrizes reveladas pelos Espíritos.
Com a evolução do pensamento filosófico da Doutrina nos tornamos mais capazes nas análises críticas do movimento espírita, sem comprometer a pedra angular do edifício kardeciano, representada pelas Obras Básicas, mas poucos leem o pentateuco.
O assunto é recorrente. Infelizmente, como sói ocorrer aqui no Brasil, alguns espíritas insistem em transformar a Casa Espírita num hospitalzão a fim de remediar efeitos (as doenças) ao invés de transformarem a Instituição numa universidade da alma para tratar as causas (os doentes). Com isso, muitos centros espíritas brasileiros abrem brechas para enxertias indesejáveis, incorporando em suas programações terapias alternativas inócuas, metodologias de desobsessão suspeitas e reuniões de conteúdos duvidosos advindos de livros sem vínculo com o bom senso.
Os ensinamentos sérios que complementam a Doutrina são quais pepitas de ouro sob as diretrizes dos Benfeitores do Além; misturado, no entando, a elas há o “ouro de tolo” e outros metais sem valor intrínseco que apenas brilham. Por isso, temos tendências de todos os gostos. Há dirigentes com insofreáveis pendores místicos que se devotam à crença no sobrenatural e impõem rituais dissimulados aos seus seguidores. Comumente as suas práticas “doutrinárias” são atribuídas às orientações dos “guias”.
Os guiistas têm inserido práticas extravagantes nos centros, a saber: radiestesia, cromoterapia, fitoterapia, cristalterapia, apometria, entre outras superstições que são impostas como alternativas de tratamento físico e espiritual. Existem até mesmo os que aplicam passes nas paredes dos centros (para “descontaminá-las”(!!!!???)), inventam expulsão de “obsessores através de correntes mento-magnéticas, psico-telérgicas, enfim seria cômico se não fosse tão trágico. Não podemos cristalizar nosso raciocínio sob a luz de um purismo ideológico extemporâneo, nem mergulharmos no entusiasmo irracional por novidades cujo cenário ensombra a metodologia espírita.
Nunca haverá radicalismos quando se utiliza a razão e a ponderação, nem quando somos capazes de olhar não só as virtudes da fé que seguimos, mas também os possíveis e indesejáveis desvios (estes não contidos no projeto doutrinário), mas nas mãos de dirigentes autoritários que abusam inadvertidamente do Espiritismo.
Ante a lei da fraternidade os que se fazem impostores necessitam das nossas preces, mas não podemos nos omitir diante do que fazem (ou desfazem?) nos centros espíritas. Podemos até respeitar e compreender as “terapias” alternativas, mas jamais adotá-las. A Casa Espírita não é arena de fanfarras e muito menos clínica de PLACEBOS alternativos. E mais , uma legítima instituição espírita não pode ser picadeiro para exibições de inócuos exorcismos.
Afirmamos que esses “tratamentos espirituais” não são úteis. Não queremos discutir a sinceridade de seus praticantes (por inocência nalguns), mas é urgente e obrigatória uma reciclagem doutrinárias dos mesmos. É mister ser deixado fora do Centro Espírita as ramificações de terapias alternativas de “cura e desobsessivas”que surgem e se mesclam ao Espiritismo por serem correntes de idéias que deixam brechas , ou melhor, crateras! Usemos e abusemos do raciocínio. Não sejamos nem omissos e nem contemporizadores com os que tentam impor seus “espiritismos” de curas fantásticas.
Todos sabemos que o radicalismo não é uma boa conselheira , contudo devemos estar atentos com o fanatismo de tais “adeptos”. Muitos deles têm conquistado espaço no movimento espírita e nas casas espíritas, disfarçam-se de trabalhadores e “orientadores”, fazem crer em novas terapias e ortodoxias, incitam desuniões aos que pensam diferentes deles, provocam exacerbado interesse pelo poder e assumem diretorias (inclusive de algumas federativas), alimentam vaidades e melindres, insuflam a confusão.
Em suma, ou nos comportemos doutrinariamente apoiados na razão, sem misticismos, e crendices outras, ou o Espiritismo ficará sem rumo em nosso País. E se não preservarmos as estruturas básicas das propostas kardecianas, não conseguiremos vislumbrar a continuação do projeto Espírita nestas plagas brasileiras.
Cremos que a espiritualidade deve estar alerta, para no momento exato (se for o caso) transferir o projeto espírita para outro país, onde a população seja menos mística, tenha fé mais racional e moral mais elevada.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net
Referência:
(1) Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro, Ed. FEB, 2000, Cap 1 item 3
(2) idem
Autor: Jorge Hessen
Fonte: http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com