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E nesse repaginar dos textos desta vida de então - onde se acumulavam dia a dia, dificultando os acertos de difícil composição evolutiva - em uma clara manhã outonal em Pasárgades - fui levado por um mago a um tribunal político, onde os jovens, e até os meninos, costumavam aprender a exercer Justiça.
Dois camponeses vizinhos disputavam a posse de um grande cesto repleto de romãs. Afirmavam que o mesmo tinha sido roubado, e cada um culpava o outro do furto e ambos se diziam donos das frutas.
O mancebo, de uns dezessete anos, de múnus conferido pelos magistrados, ouvia os litigantes em silêncio e atento, como em respeito e silêncio se mantinham todos os assistentes e, principalmente, os velhos juízes que iriam aprovar ou não, em supremo, a sentença dada pelo novel delegatário das leis vigentes.
Os contendores gritavam, gesticulavam, e o faziam com tamanha veemência como se os dois estivessem convictos de tudo quanto asseveravam. Difícil discriminar com qual deles estava a verdade.
Quebrando o mutismo, o jovem juiz - e ele o era por direito naquele momento - falou com autoridade aos conflitantes:
- Calem-se agora. Já os ouvi dizer como vivem, as terras que possuem e onde moram. No entanto, necessito de algo mais para dar sentença justa.
Após, convocou quatro anciãos conhecidos como respeitáveis e probos, e tendo eles bem próximos de sua cadeira de magistrado, falou-lhes baixo; ouvindo-o, os quatro, de imediato, se afastaram do recinto, deixando-nos em expectativa geral. Quando retornaram, depois de uma diuturnidade, os anciãos confidenciaram com o magistrado. Então, este apontou um dos camponeses e lhe disse:
- As romãs não vos pertencem e sim ao vosso vizinho, a este inocente homem a quem acusaste... - levantando-se, sem dar tempo ao culpado a sequer protestar, solicitou aos presentes:
- Acompanhem-me para a comprovação da verdade. E vós dois, também, camponeses... - nós todos, inclusive os velhos juízes, o seguimos.
Fomos ter até os pomares dos agricultores. E testemunhamos como num deles, rico e pejado de árvores frutíferas, os romanzeirais estavam plenos dos seus dourados pomos; no outro, a terra se apresentava inculta, repleta de ervas daninhas, com apenas alguns pés de pêssego e de outros frutos, todos mirrados pelas pragas. Não se via nele nenhuma romãzeira... Este descurado pomar pertencia ao camponês apontado como lesante do direito alheio.
De volta ao local do julgamento, ante o cultivador inocentado, já senhor dos frutos, do réu e de todos os demais assistentes, o jovem juiz sentenciou.
- Condeno-vos a passardes às mãos do vosso diligente vizinho, as terras que possuístes até hoje. Esta a vossa pena. Ela não vos é dada por tentardes caluniar e roubar a este homem. Porque, querendo lesá-lo, fostes instrumento para evidenciar a Virtude. Assim, nenhum mal lhe fizestes, pois aqui todos testemunharam o quanto é probo, laborioso e verdadeiro. No entanto, testeficaram também que o vosso maior crime foi com a terra que Deus vos confiou. Pecastes contra ela, relegando-a às pragas e às ervas daninhas. Respondereis ainda pelo crime da ociosidade, for esta falta grave contra as nossas leis de Justiça, passareis a servir o vosso vizinho, sob a sua custódia. Ficareis, assim, até que a terra, que era vossa, volva, por vossas mãos, a produzir frutos bons e sãos como as romãs que quisestes roubar. Só então fareis jus à posse de um novo pomar.
Os anciãos-juízes responderam em coro:
- Assim seja feito em nome de Ahurâ-Mazdâ.
A sentença do jovem discípulo fora sábia e justa. E Semelhante a ela, é a Justiça de Deus.
Autor: Josepho (Espírito) - Dolores Bacelar (Médium)
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