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Vade Mecum Espírita

Joana D'Arc e a idéia de Pátria *


 

 
                             Glória à nossa França imortal!
                             Glória aos que por ela morreram,
                             Aos heróis que, de ânimo forte,
                             Do martírio o horror padeceram!
 
                                                           Victor Hugo
 
          Na primeira parte desta obra, recordamos os fatos principais da vida de Joana d'Arc e procuramos explicá-los com o auxílio dos dados que as ciências psíquicas nos facultam. Relatamos os triunfos e os sofrimentos da heroína e descrevemos o martírio que lhe foi como que coroamento da carreira sublime.
          Resta-nos pesquisar e pôr em destaque as conseqüências de sua missão no décimo quinto século. Desse ponto de vista, formularemos em primeiro lugar a seguinte questão: Que é o que a França deve a Joana?
          Antes de tudo, sabemo-lo, deve-lhe a existência; deve-lhe o ser uma nação, uma pátria. A idéia de pátria é ainda, na época da Pucela, muito vaga, confusa, quase desconhecida. As cidades se entreolham como rivais; as províncias se guerreiam como inimigos. Nenhuma união, nenhum sentimento de solidariedade liga as diferentes partes do país. Os grandes feudos fizeram a partilha da França e os esforços dos senhores feudais tendem a libertá-los de toda e qualquer autoridade. Quando Joana d'Arc aparece em cena, os Estados de Borgonha, a Picardia e a Flandres são aliados dos ingleses; a Bretanha e a Sabóia se conservam neutras; a Guiena está nas mãos do inimigo. Joana é a primeira que evoca nas almas a santa imagem da pátria comum, da pátria arruinada, mutilada, agonizante.
          Objetar-nos-ão que o termo tinha então pouca voga. Mas, em falta da palavra, Joana nos deu a própria pátria.[i] Isso é o que devemos ter sempre em memória. Do coração de uma mulher, de seu amor, de sua abnegação é que nasceu a noção de pátria.
          Em pleno furor da tempestade que sobre ela desabara, através da negra nuvem de luto e de miséria que a cobria, a França viu passar aquela figura luminosa e ficou por assim dizer deslumbrada. Não chegou mesmo a compreender, a sentir toda a extensão do socorro que o céu lhe enviava. Entretanto, apesar de tudo, o sacrifício de Joana lhe infundiu virtudes que até ali desconhecera. Foi no mundo o primeiro país que se tornou uma nação. Selada com o sangue da heroína, sua unidade não pôde mais ser desfeita, ou aniquilada, nem pelas vicissitudes, nem pelos furacões sociais, nem por inúmeros desastres sem exemplo!
*
          Não ignoramos que na atualidade a idéia de pátria experimenta uma espécie de eclipse, ou de decadência. Desde alguns anos vem sendo, em nosso país, criticada e mesmo combatida. Uma classe inteira de escritores e de pensadores se aplica em lhe revelar os abusos, os excessos, em destruir nos corações o princípio que lhe serve de base, o culto de que é objeto.
          Antes do mais, no debate travado, conviria definir bem e precisar essa idéia. Debaixo de dois aspectos ela se oferece ao pensamento. Ora abstrata, entre certos espíritos, constitui uma entidade moral e representa a aquisição dos séculos, o gênio de um povo sob todas as faces e em todas as manifestações: literatura, arte, tradições, a soma de seus esforços no tempo e no espaço, suas glórias, seus reveses, suas ações memoráveis; numa palavra: – a obra completa de paciência, de sofrimento, de beleza, que herdamos ao nascer, obra em que ainda vibra e palpita a alma das gerações que se foram.
          Para outros, a pátria se afigura uma coisa concreta. Será a expressão geográfica; o território com as fronteiras delimitadas.
          Mas, para ser verdadeiramente bela e completa, a idéia de pátria deverá revestir as duas formas e reuni-las numa síntese superior. Considerada sob um só daqueles aspectos, não passaria de motivo de alarde, ou melhor – de uma abstração vaga, imprecisa.
          Ainda aqui a idéia se apresenta em sua dupla constituição: o espírito e a letra. Conforme o ponto de vista adotado, uns buscarão a grandeza moral e intelectual da pátria; outros visarão a seu poder material, e o estandarte, para estes, simbolizará aquele poder. Em ambos os casos, cumpre se reconheça que uma pátria, para sobreviver e irradiar pelo mundo o crescente fulgor de seu gênio, deve salvaguardar a independência, a liberdade.
          Na obra imensa de desenvolvimento e evolução das gentes, cada nação concorre com uma nota para o concerto geral; cada povo representa uma das faces do gênio universal, cuja manifestação e embelezamento lhe incumbe operar por meio do labor no curso das idades. Todas as modalidades da obra humana, todos os elementos de ação importam, são necessários ao progredir do planeta. A idéia de pátria, encarnando-os, concretizando-os, aviva entre eles um princípio de emulação e de concorrência, que os estimula, fecunda e eleva à suprema potência. O agrupamento desses modos de atividade criará, no futuro, a síntese ideal, que constituirá o gênio planetário, o apogeu evolutivo das grandes raças da Terra.
          Porém, na hora presente, na fase de evolução que percorremos, as competências, as lutas que a idéia de pátria provoca entre os homens ainda têm sua razão de ser, pois, do contrário, o gênio peculiar a cada raça tenderia a tornar-se dessaborido, a amesquinhar-se na posse livre e no bem-estar de uma vida isenta de choques e de perigos. Na época de Joana d'Arc, tal necessidade era forçosamente mais imperiosa. Hoje, o espírito humano, por se haver adiantado, deve empenhar-se em lhes dar feições sempre mais belas e puras, em lhes tirar todo caráter de selvageria e em auferir delas as vantagens que contribuam para enriquecer a herança comum da Humanidade. De tal maneira, essas lutas e competências tomarão o feitio de empreendimentos mais e mais nobres e proveitosos, mediante os quais se edificará o futuro. Então, ao pensamento e à forma se depararão expressões de magnificência e sublimidade sempre e sempre maiores.
          Assim se alará um dia, após lenta, confusa e dolorosa incubação, a alma das grandes pátrias. Da reunião destas brotará uma civilização, da qual, na dos tempos que correm, mal podemos divisar um grosseiro esboço.
          Os conflitos sangrentos do passado terão, nessa era, cedido lugar às lutas mais elevadas da inteligência aplicada à conquista das forças da Natureza e à realização do belo ideal, na arte e no pensamento, à produção de obras em que o lustre da forma se aliará à profundeza da concepção. Assim mais intensos se farão a cultura das almas, o despertar do sentimento, mais rápido o caminhar de todos para os pináculos onde reina a Beleza eterna e perfeita.
          A Terra vibrará num só sentir e viverá de uma só vida. Já a Humanidade se busca a si mesma, indecisa. O pensamento procura o pensamento na escuridão; e, por sobre as vias férreas e as imensas superfícies dos mares, os povos se chamam e estendem os braços uns aos outros. O amplexo está para breve: pela conjugação dos esforços começará a obra gigantesca de adaptação da morada humana a uma vida mais ampla, mais encantadora, mais feliz!
          O novo espiritualismo contribuirá eficazmente para a aproximação dos espíritos, pondo fim ao antagonismo das religiões e dando por base à crença, não mais o ensino e a revelação dogmáticos, porém a ciência experimental e a comunhão com os desaparecidos. Presentemente, já ele acende focos em todos os pontos do globo; sua luminosidade avançará gradativamente, até que os homens de todas as raças estejam unidos por uma única maneira de conceber o destino na Terra e no Além.
*
          Voltemos a Joana d'Arc. Alguns escritores acham que sua intervenção na História foi antes prejudicial do que útil à França [ii] e que a reunião de ambos os países sob a coroa da Inglaterra teria dado origem a uma nação poderosa, preponderante da Europa, e à qual estaria reservado grandioso destino.[iii]
          Falar assim é desconhecer os caracteres e as aptidões dos dois povos, absolutamente dessemelhantes, que nenhum acontecimento, nenhuma conquista lograria fundir inteiramente naquela época.
          O caráter inglês denota qualidades eminentes, que já tivemos ocasião de reconhecer e proclamar;[iv] mas, forma-lhe o fundo um egoísmo que tem chegado por vezes até à ferocidade. A Inglaterra jamais hesitou no emprego de quaisquer meios, para realizar seus propósitos. O francês, ao contrário, de mistura com inúmeros defeitos, revela um sentimento de generosidade quase cavalheiresca. Não menor se afirma a diversidade das aptidões. O gênio inglês é essencialmente marítimo, comercial, colonizador. O da França se orienta de preferência para os vastos domínios do pensamento. Diferentes são os destinos das duas nações e distintos os papéis que lhes tocam na harmonia do conjunto. A cada uma delas, para percorrer o caminho que lhe está naturalmente traçado e para manter em toda a plenitude a índole que lhe é própria, cumpria antes de tudo conservar a liberdade de ação e preservar sua independência. Reunidos debaixo de uma dominação comum, esses dois aspectos do gênio humano se teriam contrariado e peado os respectivos surtos. Por esta razão é que no século XV, ameaçado o gênio da França, Joana d'Arc se constituiu, na arena da História, o campeão de Deus contra a Inglaterra.
          Ela desempenhou um grande papel militar. Ora, em nossos dias se verifica que a organização militar caminha para o descrédito. Sob o nome de pacifismo, muitos pensadores, na maior parte animados de louvabilíssimas intenções, movem vigorosa campanha, em nosso país, contra tudo que lembra o espírito belicoso do passado e as lutas entre nações.
          De fato, a idéia de pátria deu azo a incontestáveis abusos. É a condição inerente a todas as coisas terrenas. Mas, nem por isso os povos perderam o direito e se forraram ao dever de rememorar suas glórias e de se orgulhar de seus heróis.
          Convimos em que a existência das milícias é um mal. Porém, não será um mal necessário? A paz universal representa um belo sonho, e a solução, pelo arbitramento, de todas as lides internacionais um progresso eminentemente desejável. Resta saber se a paz assegurada, prolongada, não acarretaria males de outra ordem.
          “Só no décimo nono século – diz o Sr. Charles Richet – morreram, por efeito da guerra, quinze milhões de bravas criaturas.[v] O passado inteiro não foi senão um estéril morticínio. Querer perpetuar essa infâmia faria corar.” E o autor convida a Humanidade a preferir as obras de vida à lúgubre tarefa da morte.
          Tais sentimentos honram ao Sr. Charles Richet. Entretanto, para enxergarmos claro na questão, precisamos elevar-nos um pouco acima dos horizontes da vida presente e abranger com o olhar a dilatada perspectiva dos tempos assinados à evolução das almas humanas. A vida atual, sabemos, não passa de um ponto na imensidade dos nossos destinos; não poderemos, pois, julgar, nem compreender o que se lhe refere, se abstrairmos de tudo o que a precede e segue. Ora, tal precisamente o caso do Sr. Charles Richet, que é céptico por natureza, pouco informado acerca do que entende com o Além e que, conforme ele próprio declara, “não sente necessidade do Além”.
          Quanto à morte pela guerra, ouçamos o que a respeito dizem a sabedoria antiga e a sabedoria moderna.
          A seu discípulo Ardjuna, que vacila em dar combate às potências do mal e em sacrificar vidas humanas, Crisna, o fundador do bramanismo, faz as seguintes ponderações:
          “Os bem avisados não se lamentam, nem por causa das tristezas da vida, nem por causa da morte que lhes põe termo. Esqueces que eu, tu e todos os chefes do exército sempre existimos e que jamais deixaremos de existir, quando, em troca, de nossos corpos usados, outros nos forem fornecidos, animados de nova vida? Encara, pois, com a serenidade de uma alma impassível as alegrias e as dores da existência. A vida de qualquer criatura desafia a destruição, porquanto a alma encarnada é eterna. Não tendo nascido, como poderia morrer? Não te cause inquietação nem o nascimento, nem a morte, olha de frente o dever que te corre. Ora, teu dever, neste dia, é travar uma justa e legítima batalha. Toda abstenção de tua parte seria uma pusilanimidade, que te desonraria para sempre. Se te matarem, ganharás o céu; vencedor, possuirás a Terra. Ergue-te, portanto, filho de heróis, e combate com a firme resolução de vencer”.[vi]
          Escutemos agora a palavra de um dos maiores psicólogos de nosso tempo, William James, reitor da Universidade de Harvard:[vii]
          “Um instinto profundo, impossível de desarraigar-se, nos impede de considerar a vida uma simples farsa, ou uma elegante comédia. Não, a vida é uma tragédia acerba e o que nela mais sabor tem é o que mais amarga. Na cena do mundo, só ao heroísmo cabem os grandes papéis. É no heroísmo, sentimo-lo bem, que se acha oculto o mistério da vida. Um homem nada vale, se se mostra incapaz de qualquer sacrifício.”
          Quais os fins a que na realidade visamos nas vidas múltiplas, no decurso da sucessão de nossas existências na Terra e nos outros mundos? O objetivo da alma em sua carreira, temo-lo demonstrado,[viii] reside na conquista do futuro, na edificação de seu destino pelo esforço persistente. Ora, a paz indefinida em mundos atrasados e no seio de sociedades ainda pouco evoluídas quanto as nossas, favorece o desenvolvimento da frouxidão e da sensualidade, os piores venenos da alma. A procura exclusiva do bem-estar, a sede de riquezas e de conforto, que caracterizam a época em que vivemos, são causas do quebrantamento da vontade e da consciência. Destroem-nos a virilidade e nos fazem perder toda iniciativa, toda capacidade de resistência nas horas adversas.
          A luta, ao contrário, engendra tesouros de energia, que se acumulam nas profundezas da alma e acabam por se incorporar à consciência. Depois de terem estado norteadas para o mal, nos estádios inferiores da evolução, essas forças, por efeito da ascensão e do progresso do ser, pouco a pouco se transformam em impulsões para o bem, pois que é próprio da evolução transmudar as potências más da alma em faculdades benfazejas. Tal a divina e suprema alquimia.
          A guerra ensina o homem a desprezar a dor, a afrontar as privações e a morte. As energias internas, assim adquiridas, em vez de continuarem a expandir-se no exterior, voltam-se mais tarde, com o progredir da alma, contra suas mesmas paixões e lhe garantem o triunfo no combate ao sensualismo deprimente, ao mal e ao sofrimento.
          A ameaça das guerras externas pode ser tão salutar aos povos em via de evolução, como aos indivíduos. Dela nasce a união no interior. A paz prolongada alimenta as dissensões intestinas; fomenta a guerra civil, como vemos presentemente pelas greves que se multiplicam em torno de nós. Nas lutas empenhadas, os reveses são mesmo mais úteis do que o triunfo: a desgraça aproxima as almas e lhes prepara a fusão. As derrotas são outros tantos golpes vibrados em uma nação; mas, à semelhança dos do martelo do escultor, esses golpes a tornam mais bela, porquanto repercutem no fundo dos corações, onde vão despertar emoções, fazendo surgir ocultas virtudes. Também é na resistência à adversidade que se temperam e nobilitam os caracteres.
          Na grandiosa evolução do ser, a coragem é a qualidade essencial. Se a não possui, como poderá vencer os obstáculos inúmeros que se lhe acumulam na estrada? Eis porque, nos mundos inferiores, moradas e escolas das almas novas, a luta é a lei geral da Natureza e das sociedades. Lutando, o ser adquire as energias primordiais, indispensáveis a que lhe seja possível descrever sua imensa trajetória através do tempo e do espaço.
          Não o vemos já na vida de hoje? Aquele que na infância recebeu uma educação forte, que preparou sua têmpera por meio de grandes exemplos, ou do infortúnio, que, ainda jovem, aprendeu a ser austero e a sacrificar-se, não está mais bem preparado para o desempenho de um papel importante, para o exercício de uma ação eficaz? Inversamente, na criança muito amimada, habituada à abundância, à satisfação de todas as fantasias e caprichos, as qualidades viris se extinguem e as molas da alma se afrouxam. O excesso de bem-estar amolenta. Para que o ser não se atrase no caminho, preciso é que as necessidades o aguilhoem, que os perigos o obriguem ao esforço.
          Com relação às sociedades terrenas, o estado moral em que se encontram apresenta mais de uma analogia com o que ocorre na atmosfera. Quando esta, na quadra estival, ao cabo de longo período de tranqüilidade, se altera e satura de emanações malsãs, furiosa tempestade vem quase sempre purificar o ar e restabelecer o equilíbrio desfeito. Assim também, quando, graças a uma paz extremamente duradoura, as paixões, as cobiças, os egoísmos chegaram ao paroxismo, quando a corrupção sobe, sobe e se alastra, cedo ou tarde acontecimentos imprevistos, bruscos abalos, rudes provações vêm chamar os homens ao sentimento das graves realidades da existência. A guerra é a forma que tais acontecimentos muitas vezes revestem, para soerguer os Espíritos, oprimindo os corpos. São purgações violentas para as sociedades e aproveitam mais aos vencidos do que aos vencedores, porque os esclarecem sobre as próprias fraquezas e lhes ministram as duras lições da experiência.
          Seja como for, não se conseguirá, faça-se o que se fizer, assegurar completamente a paz e a concórdia entre os homens, senão pelo levantamento dos caracteres e das consciências. Nossa felicidade, nossa segurança perfeita, não nos esqueçamos, estão em relação direta com a nossa capacidade para o bem. Não podemos ser felizes senão na medida de nossos méritos. O flagelo da guerra, como todos os que apoquentam a Humanidade, só desaparecerá quando desaparecer a causa dos nossos erros e vícios.
 
[i]    Recentes pesquisas demonstraram que João Chartier foi o primeiro a usar da palavra pátria, na seguinte passagem de sua História de Carlos VII, pág. 143: “De acordo com o provérbio, segundo o qual a todos é licito e louvável combater por sua pátria.”
     João Chartier – que não era, como se acreditou, Irmão do poeta Alain Chartier, que um pretendido beijo da delfina Margarida da Escócia tornou célebre e que se imortalizou por uma página admirável em honra de Joana d'Arc – João Chartier ocupava, em 1449, o emprego de “cronista da França”. Por outra, era o historiógrafo oficial da corte. Escrevia sob a inspiração direta do soberano e desempenhou suas funções literárias de modo tão agradável ao rei, que recebeu deste ordem de acompanhá-lo nas guerras contra os ingleses. Michaud, da Academia Francesa, e Poujoulat Bazin, Champollion-Figeac, etc., na obra que publicaram com o título de Nouvelle Collection des Mémoires relatifs à 1'Histoire de France, inseriram alguns trechos de João Chartier, notadamente este, que é muito significativo:
     “Em o dito ano de 1429, no começo do mês de junho, o rei levantou um grande exército por persuasão da Pucela, a qual dizia que era vontade de Deus que o rei fosse a Remos para aí ser sagrado e coroado; e apesar de certas dificuldades e dúvidas que o rei e seu conselho opuseram, concluiu-se, por indução da dita Pucela, que o rei mandaria a gente que pudesse reunir para empreender a viagem de sua coroação em Remos.”
     A Crônica de Carlos VII, rei da França, redigida em latim e traduzida para o francês por João Chartier, foi publicada em três volumes na Biblioteca Elzeviriana dos Srs. Plon, Nourrit & Cª, por Vallet de Viriville, o sábio professor da Escola de Chartes, a quem se deve, além disso, uma edição do Processo de condenação de Joana d'Arc, chamada a Pucela de Orleães, traduzido do latim e publicado integralmente em francês, a primeira vez, por Firmin-Didot & Cª, livreiros-impressores do Instituto.
[ii]    Ver: Le Mercure de France – “A desastrosa Joana d'Arc”, 1907.
[iii]   As terríveis guerras civis das Duas Rosas, York e Lencastre, que estalou pouco depois da de Cem Anos e quase levou a Inglaterra à sua perda, mostra que também neste país ainda não havia unidade. Como poderia ela estabelecer-se com os elementos inarmônicos que provinham da conquista da França?
[iv]   Ver: O Problema do Ser e do Destino, capítulo sobre a “Vontade”.
[v]    Ch. Richet – Le passé de la guerre et l'avenir de la paix, Paris, Ollendorf, 1907.
[vi]   Bhagavad Gita.
[vii] William James – L'expérienoe religieuse, pág. 312.
[viii] Ver: Léon Denis – O Problema do Ser e do Destino, passim.
Autor: Léon Denis
Fonte: Joana D'Arc
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