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O QUE É A MORTE - CARLOS IMBASSAHY


LESÕES CEREBRAIS

          Há um fato desconcertante para a Fisiologia e sobretudo para os fisiologistas, no caso das lesões cerebrais, isto é, quando há operações em partes essenciais do cérebro sem que a consciência e a inteligência fossem suprimidas ou mesmo alteradas.

          Geley assegurava que havia a privação de grandes porções do cérebro em regiões que se acreditavam essenciais, e que não era seguida, entretanto, de graves perturbações psíquicas ou restrição da personalidade. Era exemplo o caso publicado pelo Dr. Guépin, em que um jovem sofrera a ablação de parte considerável do hemisfério cerebral, conservando-se perfeitamente íntegro.(66) (67)

          O afamado psiquiatra e neurologista Enrico Morselli, diante do fato, foi obrigado a confessar que ele o desnorteava. E a propósito do assunto, escrevia Ernesto Bozzano: ?Há fatos de enorme importância teórica, que servem para conciliar a sobrevivência do espírito humano com a patologia mental sob todas as formas: delírio alcoólico, demência, idiotia, etc. Não me ocorreu apontar a eficácia resolutiva desta ordem de fenômenos supranormais. Se dela me houvesse lembrado, tê-la-ia podido aproveitar para demonstrar ao Professor Morselli que, com a existência de um cérebro etéreo, se explicará um enigma psicofisiológico, isto a propósito de achar-se sobre a secretária daquele eminente professor uma revista tedesca contendo longo artigo sobre alguns casos, observados durante a grande guerra, de soldados que tiveram o cérebro despedaçado por estilhaços de granada, com abundantes perdas de matéria cerebral, e que se curaram, conservando íntegras suas faculdades intelectuais?.

          Concluía o autor citando outros casos do mesmo gênero, ainda mais extraordinários, entre os quais o muito conhecido de um suboficial da guarnição de Antuérpia, que havia dois anos se queixava de persistente dor de cabeça, o que, entretanto, nunca o impedira de cumprir os deveres de seu posto. Tendo morrido subitamente, procederam-lhe à autópsia do cérebro e descobriram que um abcesso de evolução lenta lhe reduzira todo o órgão cerebral a uma papa de pus.(67)

          Observava então o professor Morselli que tão extraordinárias exceções à regra constituíam, um enigma dos mais perturbadores da hodierna Psicofisiologia.

          Por onde se vê que o cético professor, rendido à evidência, não pôde ou não soube explicar em termos de Fisiologia o caso extraordinário, caso que vinha demonstrar a afirmativa de que o espírito é independente do corpo e prescinde por vezes do cérebro, o que vem acentuar. aquela independência.

          Digamos que se entende por cérebro etéreo o cérebro perispiritual. Vamos, porém, a uma explicação rápida, a mais rápida possível, para não nos embrenharmos numa técnica difícil de entender e por isto fastienta.

          Temos, ligado ao espírito, e que o acompanha na vida e na morte, um outro corpo, uma espécie de luva, uma fôrma do corpo físico, que o reproduz anatomicamente e se denomina perispírito. É com esse corpo, possuidor de várias denominações, como corpo etéreo, corpo fluídico, corpo ódico, corpo astral, duplo fluídico, que os Espíritos se nos mostram durante a vida ou durante a morte, consequentemente desacompanhados das respectivas vestiduras somáticas.

          É esse corpo que se desprende do ser vivo, ou melhor, do soma, deixando-o em ligeiro transe, por vezes imperceptível, ou a dormir, ou inerte, e vai apresentar-se alhures, como nos chamados casos de bilocação, de que se acham refertos os agiológios, que são descritos pela História, profana ou eclesiástica, e enriquecem atualmente os anais da fenomenologia supranormal. O fenômeno é conhecido por diversos nomes como desprendimento, transporte espiritual, bilocação, bicorporeidade e outros. A bicorporeidade é fato indubitável para os que estudam o Psiquismo.

          É esse corpo que se nota muitas vezes ao lado do outro, o físico, repetindo-lhe os movimentos como, entre vários, no célebre caso da senhorita Sagée.

          Dir-se-ia o perispírito uma espécie de envoltório, de capa; esta não se desfaz com o corpo; é o indumento talvez etèrno do Espírito; segue-o na morte; é nele que ficam gravadas as sensações de natureza física que o Espírito leva algumas vezes para o Espaço, mormente quando se acha muito materializado, muito impregnado de paixões mundanas e estas são bastas vezes um castigo aos seus desregramentos. O perispírito acompanha o ser em sua evolução, volta a novo corpo em suas reencarnações, e a esse corpo costuma transmitir as marcas, falhas, defeitos, deformações, deteriorações que os vícios e maus hábitos transmitiram ao corpo anterior; ele se transforma fluidicamente à proporção que o Espírito se aperfeiçoa, adaptando-se aos novos corpos, aos novos terrenos, aos novos planos de vida, às contingências das novas existências.

          É com esse corpo fluídico que o Espírito se entremostra aos videntes; que é perceptível, que é assinalado nas sessões mediúnicas, que se incorpora na ectoplasmia, que é fotografável. E se torna por vezes o espantalho nas casas mal-assombradas, nos palácios infestados, o terror das crianças, neófitos e inexperientes, e passa a ter a denominação de "Alma do outro Mundo?, que a tradição consagrou.

          Ora, o cérebro etéreo seria a reprodução do cérebro material, a parte do perispírito correspondente a esse cérebro, o que nos explicaria os fenômenos que a Ciência desconhece, mas que realmente existem, embora o ignorem. Fica explicada a frase de Bozzano.

(66)     Gustave Geley. De l?Inconscient au Conscient. Paris, 1920. Págs. 81 e segs.

(67)     E. Bozzano. Animismo e Espiritismo. Trad. de G. Ribeiro. Pág. 188.

 

Autor: Carlos Imbassahy
Fonte: O que é a Morte - Edicel
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