Um brasileiro está sendo estudado por cientistas americanos. Ele teve a cabeça atravessada por um vergalhão e agora pode ajudar a ciência a desvendar mistérios do cérebro.
“Aconteceu há dois anos atrás, eu estava trabalhando”, conta Eduardo.
O vergalhão entrou pelo alto da cabeça e atravessou a região entre os olhos, atingindo a área frontal do cérebro.
Eduardo estava agachado usando capacete quando foi atingido pelo vergalhão. A barra de ferro caiu de uma altura de 15 metros e tinha dois metros e meio de comprimento.
“Cortaram o ferro, diminuíram o tamanho e me levaram para o hospital. Em momento nenhum eu desmaiei, fiquei o tempo inteiro conversando”, conta.
E esse foi o primeiro espanto dos médicos, que se perguntavam: como é possível ele estar vivo?
Depois constataram que Eduardo tinha perdido boa parte da massa encefálica. Uma área responsável pelas funções associadas ao comportamento. E as expectativas na época, não eram nada boas.
“Ele pode vir a apresentar uma "liberação" do humor, ou seja, ficar mais engraçado do que ele era habitualmente, ele pode também ter alterações depressivas, ele pode ter uma dificuldade de planejar o seu futuro, de relacionamento com a família, com os amigos”, disse o médico Rui, em 2012.
A previsão era de que isso aconteceria em poucos meses. Mas hoje, dois anos depois:
Médico: Ele não teve nada?
O Eduardo, clinicamente, está absolutamente e surpreendentemente normal
Médico: Não teve nenhuma alteração de comportamento?
Nenhuma alteração de comportamento. Ele está absolutamente igual ao que ele sempre foi.
O caso do Eduardo virou um mistério para a medicina. E chamou a atenção dos cientistas americanos. O operário foi trazido para este centro de estudos em Nova York para ter seu cérebro pesquisa por uma das maiores autoridades médicas no assunto. A resposta que a ciência procura é: Como o Eduardo, mesmo depois de ter perdido 11 % do cérebro, continua tendo uma vida normal?
O neurologista Rodolfo lhinás, indicado ao prêmio Nobel de medicina em 2013, está surpreso. “Isso é inacreditável. Essa pessoa deveria ter sofrido muitas sequelas", destaca o neurologista.
Eduardo veio para Nova York com o médico que o atendeu, um professor e dois alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele conta que está afastado do trabalho recebendo R$ 1040 por mês. Mas que leva uma vida normal. A família até cresceu depois do acidente. Veio o terceiro filho.
As consequências até agora foram algumas convulsões, que estão sendo controladas por medicação e que os médicos consideram reações normais para qualquer pessoa que tenha tido uma lesão no cérebro.
Eduardo passou por vários exames em Nova York, o principal deles é o chamado magnetoencefalografia.
“Ele vê cada milímetro do cérebro, cada ponto da atividade elétrica”, explica.
“A gente vai ter uma explicação, exatamente do que aconteceu com o Eduardo e por que ele está tão bem. Como que o cérebro dele compensou esse trauma que ele teve”, explica Guilherme Rabello, neurocientista.
O neurocirurgião Renato Rosenthal, conta um caso clássico da medicina. Em 1840, o operário americano Phineas Gage trabalhava na construção de uma ferrovia e sofreu um acidente semelhante ao de Eduardo.
No caso dele, a barra de ferro entrou de baixo para cima, mas também atingiu a região frontal do cérebro. Ele sobreviveu, mas mudou completamente de personalidade. Virou uma pessoa agressiva e seu caso passou a ser considerado como uma das primeiras evidências científicas de que uma lesão no lobo frontal do cérebro pode alterar a personalidade, as emoções e a interação social.
“Com certeza o caso do Eduardo vai ser estudado nas universidades e vai estar em todos os livros da mesma maneira que o caso do Phineas Gage é estudado no momento”, explica Renato Rosenthal.
“Se eles encontrarem a resposta, parabéns pra eles. Porque um cara que sofre um acidente desses, só tem que acreditar muito e crer que Deus existe e fez o milagre”, diz Eduardo.
Renata: O Eduardo ter sobrevivido é um mistério ainda para medicina?
Professor: Mais do que isso, eu diria que é um ponto de reflexão. O que nós acreditávamos que sabíamos sobre o cérebro, e como nós podemos, nesse caso específico, questionar os nossos conhecimentos e o que ainda falta ser desvendado.